Uma lenda sobre Manteigas

O Concelho de Manteigas é rico em lendas e tradições.
Relatos que envolvem o imaginário de todos aqueles que queiram conhecer ainda melhor esta terra carregada de beleza natural e de um passado com história.

Segundo a Mitologia:
Hermes, filho de Zeus e Maya, ágil e arguto mensageiro e arauto dos deuses do Olimpo, que executava as suas ordens mais veloz que o pensamento… com sandálias aladas nos pés… um chapéu mágico com asas… um caduceu como bastão encimado, também por duas asas… ele o deus dos rebanhos… dos pastores.., desgostoso de todas as invejas dos seus companheiros da Corte do Olimpo e conhecedor de todas as artimanhas menos dignas do senhor de todos os deuses, decidiu esconder-se no local mais ermo e inacessível aos homens e aos deuses e escolheu como sua morada preferida os Montes Hermínios, lá para os lados do grande Mar, onde não chegavam as intrigas dos senhores da civilização da bacia mediterrânica… Para ele não era qualquer problema. Como se deslocava mais veloz que o pensamento, as suas ausências nem sequer eram notadas pelos seus divinos consócios…
Um dia, Hermes (filho de Zeus e Maya) acordou desolado… Tinha assistido ao lento deslizar do glaciar que abriu o profundo vale dos Hermínios e ao fundo, o locus amoenus mais belo que imaginar se podia… muito mais belo e sedutor do que a ilha encantada de Creta, esse lugar permanecia desabitado… Ora, é aqui mesmo que eu quero fundar a terra dos meus seguidores mais fiéis…pensou Hermes.

Foi então que Hermes, o senhor solitário dos Montes mais secretos até desconhecidos dos deuses, desgostoso da sua solidão, decidiu atrair para o seu recanto secreto os pastores mais destemidos e ousados que havia à face da terra conhecida…
Descobriu no povo Cimeiro uma jovem ainda criança que a mãe embalava no seu colo… Como deus dos rebanhos, mandou que um dos seus toiros apanhasse a mãe desprevenida e lhe arrebatasse a criança levando-a à desfilada sem ser alcançado até que a deixou à beira de uns azereiros e outras espécies de salgueiros, juncos e flores que bordejavam o rio, onde, depois da fúria que trazia desde os Cântaros onde nascia até depois do vale entre os mais altos montes, se começava a transformar em serpente e a transformar as margens em terras fecundas de prados verdejantes ricas pastos de todos os seus rebanhos e flores das mais variegadas cores…
Foi aí que acorreram os mais valentes vizinhos da desesperada mãe que vira a filha arrebatada por um toiro, o que parecia o mais feroz daquela manada de castanhos reluzentes e, ao verem aquele toiro feroz, depositar carinhosamente a criança que se chamava Hermínia, entre tufos de ervas e de flores, e aquecê-la com o seu bafo, decidiram ali criar toda a espécie de gados e rebanhos nas mais abundantes e nutritivas pastagens que imaginar se pode e passado pouco tempo, vinham legiões de gentes dos mais variados lugares e povos à procura de animais e do leite que as reluzentes vacas e luzidias cabras e ovelhas produziam e como o leite corria abundante, quase como a água do rio e ribeiras que o alimentavam… passaram a guardá-lo em forma de creme para que chegasse abundante para todos e durante todo o tempo, passaram a fazer outra espécie de creme delicioso e a um chamaram queijo e a outro manteiga… e como havia creme delicioso, transformado em queijo e manteiga de todos aqueles variados leites, cada um com o seu sabor mais requintado e saboroso, foi daí que as Hermínias e Hermínios que se seguiram passaram a ser procurados como os fornecedores dos mais deliciosos manjares que só tinham comparação com o néctar e a ambrosia a comida só conhecida dos deuses do Olimpo e chamaram-lhe então: Manteigas!

Extraída de www.joraga.net

Fátima – Lenda de S. João na Beira-Baixa

Da presença muçulmana, o fenómeno mais estranho é o do culto a Fátima, pelos pastores, mantido desde a expulsão dos Mouros e chegada dos primeiros reconquistadores cristãos às terras de Manteigas. Autores do séc. XVII e do séc. XIX, falam da devoção dos pastores serranos de Manteigas à princesa moura Fátima, que está encantada na Serra e os protegia sempre que eles estavam aflitos e a ela recorriam. O nome de Fátima conserva-se na toponímia duma montanha, em Manteigas, e no princípio deste século, e segundo testemunhos, a devoção ainda se mantém. (www.terrasdabeira.com)
O montante cristão não dava repouso à cimitarra muçulmana.
Mais fortes os Nazarenos, ou mais felizes, levaram de roldão os sequazes de Mafoma. Repelidos de combate em combate, perseguidos sem mercê, era-lhes impossível transportar todas as riquezas adquiridas durante séculos. Recorriam então ao expediente de as ocultar nos sítios, que julgavam mais adequados.
Principia aqui a dar largas à sua expansibilidade a imaginação popular. Esses tesouros eram, no dizer do povo, guardados por mouras encantadas.
O rei agareno de Manteigas tinha uma filha chamada Fátima. Era formosa como uma visão do paraíso prometido por Maomé e o pai estremecia-a como a fibra mais sensível da sua alma. Os cavaleiros cristãos das vizinhanças empregavam os maiores esforços para se apoderarem dos seus estados, cativarem a filha e assenhorarem-se dos seus bens e jóias.
O rei quis resistir, abrigado com as muralhas da cidade, mas como as hostes assaltantes eram em número descomedido e a resistência seria uma loucura, resolveu fugir pelos carreiros mais escusos da serra, levando a filha e o resto das riquezas, que ainda não tinham sido postas em lugar seguro.
Andaram, andaram, durante todo o dia, mas ao anoitecer Fátima não podia dar mais passada, morria de cansaço. A conjuntura era temível. Como socorrê-la naquele descampado, no sítio mais agreste da serra? De súbito, na sua frente, abre-se um esplêndido caminho todo florido, calçado de pedras finíssimas, e ao cabo dele, um foco de luz que iluminava tudo como se o Sol brilhasse no Zénite.
Era como um milagre operado pelo Profeta, a salvação que surgia a alguns passos. Então o rei, a filha e a comitiva sentiram a esperança renascer-lhes no coração. Seguiram a estrada que se lhes abria na frente e entraram num palácio resplandecente, tão cheio de coisas magníficas que todos se quedaram deslumbrados.
O que depois se passou nunca ninguém o soube, mas nos dias imediatos viram os serranos subir e descer pelas encostas diversos pastores que ninguém conhecia na localidade. Demoraram-se algum tempo por aqueles sítios e faziam repetidas visitas ao Coruto de Alfátema, nome por que se designava o cabeço. Um belo dia desapareceram e nunca mais ninguém lhes tornou a pôr a vista em cima.
Esses pastores eram mouros disfarçados, e foi por indiscrição deles que se soube que uma boa fada, madrinha de Fátima, a prometera guardar na sua vivenda encantada, sempre jovem e formosa até que os fiéis sectários do Alcorão conquistassem de novo Portugal.

Esta crença estava arreigadíssima no ânimo dos camponeses, e durante os séculos XIl e XIII era enorme o pânico, na persuasão de ver chegar os esquadrões mouriscos em busca da linda Fátima.
A lenda ainda tomou mais corpo no espírito crédulo dos simples aldeões quando, poucos anos depois de os Cristãos tomarem Manteigas, se deu o seguinte acontecimento:
Uma pobre mulher, das mais miseráveis da localidade, teve de passar, de madrugada, no dia de S. João, pelo Coruto de Alfátema. Sentindo-se fatigada, sentou-se num dos muitos penhascos que por ali abundam para descansar e comer algumas côdeas de pão que trazia.
A boroa, dura de muitos dias, quase não se podia tragar. Quando a desventurada dizia mal à sua vida por ter de ingerir um tão pouco alimento, viu a seu lado um vasto estendal de figos secos.
Comeu alguns, e, lembrando-se dos filhos que choravam longe, encheu deles uma cesta que levava.
Dirigiu-se lépida para a choupana, gozando antecipadamente da alegria que ia proporcionar às crianças. Qual não foi, porém, o seu pasmo, quando, ao destapar a cesta, em vez de figos se lhe deparam diamantes e reluzentes moedas de ouro.
Estava rica. Mas a mendiga que minutos antes dera graças a Deus por ter só pão para saciar a sua fome e a dos seus, sentiu mordedura da ambição. Um cabaz de pedras preciosas e de boas dobras de ouro já era pouco para ela! Queria ser riquíssima.
Volta apressada ao Coruto. Mas o Sol, que subira de todo no horizonte e que refulgia agora no imenso céu sem nuvens, arrancava da superfície polida dos fraguedos miríades de cintilações ofuscantes. O encanto quebrara-se, os figos tinham-se sumido.
Presa de uma grande aflição e desespero, arrepelando os cabelos, ia para blasfemar, quando ouviu uma voz suavíssima cantar:
Era teu tudo o que viste;
Agora tornaste em vão!
Não passes mais neste sítio
Na manhã de S. João.
Não te perdeu a pobreza,
Pode matar-te a ambição.
Texto de Eduardo Noronha – www.joraga.net

Lenda da Princesa Estrela

Nos tempos recuados da Idade Média, vivia junto dos Montes Hermínios, numa vasta planície, um rei godo, do povo muito amado. Houvera de sua mulher uma linda menina, branca como luar de Janeiro, cintilante como as estrelas douradas a luzir no firmamento nas noites límpidas e puras.
– É branca como as estrelas – diziam as aias que a vestiam. E os pais da princezinha sorriam de contentamento e diziam um para o outro: – Pois há-de chamar-se Estrela.
Este lindo nome recebeu no Baptismo e, quanto mais crescia, mais as estrelinhas, suas irmãs, invejavam a sua beleza.
Na côrte havia um cavaleiro esbelto chamado D. Diego (ou Diogo – já se não sabe ao certo) que gostava muito da princezinha. Muito se amavam, e passavam juntos, em alegria, horas infindáveis…
Veio um dia a guerra contra os árabes, em terras distantes, e D. Diego partiu com o Rei. A linda Estrela ficou desolada, cheia de saudades, a chorar seu cavaleiro ausente.
O coração não suportava essa separação já longa, e resolveu subir aos altos montes das redondezas a ver se avistava D. Diego no seu regresso. Foi com as aias até ao cimo dos mais altos penhascos onde trepava todos os dias na esperança de ver, ao longe, o cavaleiro ousado, o seu querido D. Diego, no seu cavalo branco em que fôra pelejar contra os mouros.
Dos cerros íngremes, tão altos que quase o céu se tocava com a mão, a linda princesa espraiava o olhar na distância infinda, mas, do seu cavaleiro ausente, não divisava nada. Triste, muito triste, mais triste que a noite, clamava em alta voz:
– Mom-Diego! Mom-Diego! porque não vens? Só as rochas negras repercutiam o eco:
– Mom-Diego! Mom-Diego! … Assim passaram os dias, assim correram as noites de infindável angústia durante os quais os olhos da princezinha eram duas fontes de lágrimas de água pura a correr…
Água tanta seus olhos derramaram, que ela foi correndo serra a baixo…
Os pastores e as gentes da serra ouviram ainda, durante muito tempo, o eco das cavernas repetindo as exclamações da princesa que ali morreu de pena: – Mom-Diego Mom-Diego!…
E, por isso, deram o nome ao rio que ali se formou das lágrimas da princezinha e que é, nem mais nem menos, que o nosso Mondego.
E à Serra alta que, até então, se chamava Montes Hermínios, deram o nome da formosa Estrela, tão linda, esbelta e formosa como as estrelas do céu!…
Extraída da Monografia da Vila de Seia de P. José Quelhas Bigotte

Festividades fixas e actividades sócio-económicas

Anualmente várias são as festividades/actividades do Concelho de Manteigas, concretamente:
▪ as Comemorações do Feriado Municipal, no dia 4 de Março;
▪ o Mercado, com exposição de produtos regionais, no 2.o Sábado de cada mês;
▪ a Mostra de Actividades e Feira de Artesanato (Expo Estrela), tendo lugar, no dia do Carnaval, a prova do Queijo da Serra da Estrela e um desfile Carnavalesco.
Realizam-se ainda festividades específicas de cada freguesia do Concelho, nomeadamente,

Sameiro
As festas que se comemoram são a de Santa Eufémia, no 3.o fim-de-semana de Setembro, de Beato Nuno, 2.o fim-de-semana de Agosto e de São João, no dia 24 de Junho ou no
fim-de-semana mais próximo.

Santa Maria
Comemoram-se as festas e romarias de São Lourenço, a 10 de Agosto, do Senhor do Calvário, no 3.o Domingo de Agosto, de São Sebastião, no 4.o Domingo de Outubro e os Santos Populares.

S. Pedro
Das Festas e Romarias, celebram-se nesta freguesia a festa da Nossa Senhora da Graça, a
8 de Dezembro; Santo António, a 13 de Junho; Senhora dos Verdes, no 3.o Domingo de Setembro; e, São Sebastião, no 2.o Domingo de Outubro.

Vale de Amoreira
A festa da Nossa Senhora da Anunciação celebra-se no 2.o Domingo de Agosto.

A Câmara Municipal de Manteigas promove anualmente, no fim-de-semana de Carnaval, a Mostra de Actividades e Feira de Artesanato (Expo Estrela), que reúne cerca de
70 expositores, repartidos por Entidades, Associações, Artesanato, Comércio, Produtos Regionais, Indústria e Restauração.